quinta-feira, 12 de julho de 2012

O teu rosto será o último - João Ricardo Pedro

SINOPSE: Prémio LeYa 2011

Tudo começa com um homem saindo de casa, armado, numa madrugada fria. Mas do que o move só saberemos quase no fim, por uma carta escrita de outro continente. Ou talvez nem aí. Parece, afinal, mais importante a história do doutor Augusto Mendes, o médico que o tratou quarenta anos antes, quando lho levaram ao consultório muito ferido. Ou do seu filho António, que fez duas comissões em África e conheceu a madrinha de guerra numa livraria. Ou mesmo do neto, Duarte, que um dia andou de bicicleta todo nu.

Através de episódios aparentemente autónomos - e tendo como ponto de partida a Revolução de 1974 -, este romance constrói a história de uma família marcada pelos longos anos de ditadura, pela repressão política, pela guerra colonial.
Duarte, cuja infância se desenrola já sob os auspícios de Abril, cresce envolto nessas memórias alheias - muitas vezes traumáticas, muitas vezes obscuras - que formam uma espécie de trama onde um qualquer segredo se esconde. Dotado de enorme talento, pianista precoce e prodigioso, afigura-se como o elemento capaz de suscitar todas as esperanças. Mas terá a sua arte essa capacidade redentora, ou revelar-se-á, ela própria, lugar propício a novos e inesperados conflitos?


OPINIÃO: Este livro provocou-me um misto de emoções. Não digo isto de forma positiva, uma vez que estas emoções oscilavam entre o “será que até estou a gostar” para o “estou a odiar”.
Em primeiro lugar, o livro é pequeno. Não me refiro ao tamanho físico, mas sim ao que ficava se todas aquelas enumerações fossem retiradas. Havia páginas completas de enumerações de objetos. O que sobrou da história foi pouco.
Quanto à história, senti falta do fio condutor. Senti os capítulos totalmente desapegados uns dos outros e, consequentemente, as perguntas que iam surgindo acabaram por ficar sem resposta. Funciona mais como um conjunto de reflexões, como se três personagens estivessem a recordar momentos específicos da sua vida e os transpusessem para o papel, com a confiança de já conhecer o que procedeu e precedeu a ação. Logicamente, o leitor não conhece, logo, torna-se difícil acompanhar o raciocínio que o autor poderá ter tido ao compilar a narrativa.
Há uma nítida inspiração, visível nalguns trechos mais desapegados, ao Nobel Saramago. Contudo, o autor talvez tenha exagerado um pouco na crueldade aplicada nalguns momentos, com alguma falta de tato, choca com passagens, um tanto grotescas, do domínio sexual. Não me pronunciarei acerca das mesmas, se lerem o livro, sei que se saberão imediatamente a que me refiro.
Porém, houve pontos positivos e até situações que me tocaram.
A obra poderia estar mais bem aproveitada, se lhe fosse dedicado mais tempo e paciência. Acho que lhe falta imensa substância para chegar a um prémio. Apesar de o núcleo ser deveras interessante e promissor, muitas passagens obrigatórias foram omitidas, deixando o enredo ao nítido sabor do vento. Um conjunto de frases soltas agrupadas num texto – é assim que defino este livro, que tinha tudo para ser brilhante.


2 comentários:

  1. Olá Andreia,
    Dureza para com o homem ;) isso dos prémios tinha-mos aqui assunto para... olha um prémio! O livro é bom sem ser excepcional como desconheço os outros candidatos, não me posso alongar, mas o trabalho da Leya é que tem sido uma delicia para as (outras) editoras, estão a explorar muito bem esta situação, e connosco a ajudar.

    ResponderEliminar
  2. Eu acho mesmo que lhe falta muito conteúdo... O que era para ser excêntrico, acabou por ser confuso e insuficiente...
    Atenção, o que está subjacente a toda a história, tem alma! Daí as minhas 3 estrelas. Houve passagens que me tocaram, mas, em geral, não chegou para mais do que isso.
    E, claro, isto é só a minha opinião ;)

    ResponderEliminar