O que é que se aprende quando se pergunta a um cineasta, a um músico, a um professor, a uma pintora, a um ex-bailarino, a um actor, e a um escultor o que pensam quando ouvem as palavras Ética, Estética e Cidadania?
Foi em busca destas respostas que Susana Santos Silva se aventurou. Uma experiência que segundo a autora a marcou e a pôs a reflectir profundamente sobre a actualidade. Note-se que as figuras entrevistadas são pessoas que possuem uma cultura riquíssima para além de terem vivido em tempos muito divergentes dos que hoje conhecemos. Arriscar-me-ei dizer que o mundo que estes senhores habitaram não possuía as facilidades que a actualidade produz e no entanto fizeram-se artistas que dificilmente são superados pelos contemporâneos.
“O Belo e a Vida” é um livro composto por oito entrevistas a diferentes entidades ligadas à arte. Apesar de haver um ponto que todos os artistas partilham, o facto de todo o ser humano ser intimamente um artista, há características nos diálogos que moldam as suas personalidades, logo as suas visões face aos três temas abordados.
O cineasta António Alçada Baptista fala da “tribo” e dos deveres que esta sustém no seu seio; o músico, Maestro António Victorino de Almeida enfatiza a inconsistência que molda estes conceitos, qualificando-os como abstractos; o professor António Jacinto Rodrigues relembra a sua vivência numa sociedade revolucionária e barrada pelo fascismo; a pintora Maria Helena Abreu apela à hipersensibilidade e à importância da instituição família; o Ex-bailarino Jorge Salavisa conta a rebeldia que o motivou, a irreverência pelas limitações impostas pela sociedade, pelas instituições que o acompanharam; o actor Ruy de Carvalho realça a palavra respeito e o seu valor (quase) perdido; o escultor José Rodrigues quer ver um mundo onde o ser humano se movimente conforme a sua emoção/razão e que faça pressão contra a rotina que os oprime; por fim, o cineasta Fernando Lopes brada a liberdade.
Este conjunto de entrevistas, para além dos conceitos abordados, faz menção a problemáticas que assolam a contemporaneidade. Susana Santos Silva elabora três capítulos finais onde, através de frases retiradas estrategicamente das entrevistas, reflecte nas vertentes: “O nosso tempo”, “A nossa natureza” e “O nosso caminho”.
Susana Santos Silva traz aos leitores este legado no intuito de partilhar esta experiência, as palavras, as reflexões que a acompanharam neste percurso intelectual e no fundo tão simples como existir.
A linguagem é cuidada, afinal estamos a falar de figuras de elevado estirpe cultural e social, o palavreado rebuscado mas de leitura bastante corrente. Uma vez iniciada uma entrevista, é impossível parar até chegar à última pergunta. Cada entrevista, um ensinamento.
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