“Como é terrível o saber quando não traz vantagem possuí-lo – Este é um facto que eu bem conheço, mas havia-me esquecido.” Sófocles, Rei Édipo, vv.316-317.
Esta magnífica frase que fala de um conhecimento que é desastroso e que havia sido esquecido, retrata em grande a obra clássica, mítica e única de o “Rei Édipo”.
Esta é mais uma das luminosas peças da Grécia Antiga que ilustra o poder que o destino tem sobre a vida dos mortais. É precisamente a esse saber que esta sentença se refere, para quê ter conhecimento de algo que não é possível mudar?
O destino de Édipo foi traçado para cumprir uma linha terrível à sua nascença, matar o pai e casar com mãe. No entanto como qualquer humano dotado de um ego desmedido ao tamanho do seu escasso poder, Édipo pensou que poderia alterar o rumo das palavras do mensageiro. Contudo, as linhas foram escritas “tortas” e Édipo ao fugir da casa dos pais acaba por se dirigir directamente para onde o destino deseja que este se encaminhe. Logo, esta notícia que veio do mensageiro, não foi em vão, é propositado que Édipo adquira o conhecimento destas palavras fatídicas que o farão tomar atitudes, à partida acertadas mas que o enviarão a cumprir inconscientemente o carma a si imposto.
Este saber não trouxe felicidade para Édipo mas com os anos foi esquecido. Nessa altura o valente sabia a densidade que certas palavras podem ter na vida dos mortais, ao ter de fugir do local onde cresceu e afastar-se de quem o criou, Édipo conheceu na pele o poder que o inalcançável e as suas sentenças têm sobre os mortais. Contudo, no futuro comete o erro de querer conhecer as verdades que o demolirão. O ego retorna com o esquecimento e com a aparente finta que este pensa ter dado ao destino, até que este o arrebata sem piedade.
O drama que envolve a história de Édipo é sufocante porque o leitor conhece antes do personagem a verdade que este procura incessantemente e antecipa as acções que tamanha informação poderá despoletar.
Nesta peça reconhecemos dois tipos de conhecimentos, aquele que a sentença se refere, o indesejável que não se pode alterar e aquele que está em falta na consciência da personagem. Isto é, se Édipo conhecesse as suas origens, se soubesse que fora entregue aos pais que conhece quando era apenas um bebé, ele nunca teria ido de encontro à sua destruição.
A veracidade da frase é inquestionável quando analisado o trágico caminho que Édipo percorre, foi o saber que o destruiu juntamente com a incapacidade humana de aceitar o destino imposto, porque foi este último que o impeliu a agir erradamente.
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