quarta-feira, 3 de julho de 2013

Sangue Quente - Isaac Marion

SINOPSE: R é um jovem com uma crise existencial – ele é um zombie. Ele vagueia por uma América destruída pela guerra, pelo colapso social, e pela fome desmesurada dos seus companheiros mortos-vivos, mas ele anseia algo mais que sangue e cérebros. Ele pode falar somente algumas sílabas grunhidas, mas a sua vida interior é profunda, plena de maravilha e desejo. Ele não tem quaisquer memórias, nem identidade, nem pulsação, mas tem sonhos.


Depois de vivenciar as memórias de um menino adolescente ao consumir o seu cérebro, R faz uma escolha inesperada que começa com um tenso, desajeitado, e estranhamente doce relacionamento com a namorada humana da vítima. Julie é uma explosão de cor no meio da sombria e cinzenta paisagem que cerca R.


A sua decisão de protegê-la vai transformar não apenas R, mas também o seu companheiro Morto, e talvez o seu mundo inteiro.”

OPINIÃO: Este foi, sem dúvida, o livro mais estranho que li nos últimos tempos.
Sinceramente, eu nem sei se gostei disto ou não! 
Passo a explicar...
Em primeiro lugar, custa-me imenso associar pensamentos, emoções humanas neste monstro. Vejamos, o zombie é um morto que anda, certo? Ele já não tem alma, já não tem... vida! 
Ok. Eu sei que os vampiros também não têm e os fantasmas idem. Mas eu ainda acho que funciona melhor com estes últimos.
Isto para dizer que este zombie em questão apaixona-se! Não consigo engolir isto lá muito bem, mas deve ser preconceito meu.

Segundo ponto estranho: o  zombie, que se apaixona, é correspondido! 
Isto sim, é estranho. Zombie = a cadáveres em decomposição.
A temática de "a bela e o monstro" não tem o mesmo "odor" aqui. Desculpem, mas simplesmente "cheira-me" um pouco mal.

O grande terceiro ponto está relacionado com a construção do enredo e estou parva por ver que ninguém ainda mencionou nada sobre isto.
Então, o nosso R começa por mencionar o facto de os zombies estarem vestidos com a roupa com que morreram. Cheiram mal e estão totalmente esfarrapados. Isto porque o zombie não é capaz de se vestir e despir, certo?
No entanto, parece que o pervertido do amigo do R, o M, gosta de ter relações sexuais com outros zombies do sexo feminino. E como é que ele faz isso? Estando todos nus, um à frente do outro, a chocarem o corpo.
A minha pergunta é: como é que o M (e outros) fazem isto? Ora estão nus, ora aparecem vestidos, sem ter a habilidade de o fazer!

Outro levantamento de sobrolho deu-se, mais à frente, na procura de comida para Julie.
No início, R menciona que a eletricidade do aeroporto está quase sempre desligada e que ele gosta de se deixar ficar nas escadas rolantes, aguardando pacientemente que a eletricidade se ligue por escassos minutos e que estas andem. Ali fica ele a desfrutar do passeio. 
Contudo, quando saem em busca de alimentos para Julie, R percebe que a comida dos armários se encontra toda estragada, com vermes à mistura. Então, ele dirige-se ao frigorífico que manteve as conservas fresquinhas e comestíveis após anos.
Como se na maior parte do tempo não há luz?

Terceira e não última (mas não me apetece mesmo numerar tudo que me deixou estupidificada): R diz que não sabe o seu nome. R não se recorda se era boa pessoa ou não. R não sabe o que fazia da vida e não se recorda de nada do seu tempo como vivo. De repente, umas páginas adiante, R diz que antigamente não passava tanto tempo calmo e sereno, simplesmente a observar. 
Lembra-se ou não se lembra? Assim fica difícil perceber as capacidades destes seres, já por si muito estranhos.

Porque é que não é simplesmente um 1 e arrumou o assunto? Porque ficar indecisa sobre se gostei ou não?

O livro tem umas observações muito pertinentes. Os pensamentos existencialistas de R trazem algumas reflexões e a linguagem que o autor utiliza é poética, sem ser complicada, e deliciosa de ler. Absorve-se o que ele escreve com muita naturalidade.

O livro entretém e o humor implícito na inocência de R traz bons momentos à leitura.
Tem alguma crueldade, nomeadamente no que respeita a natureza de R e a inevitabilidade em tomar a cabo certas ações. 

Julie não é uma protagonista feminina irritante e, por fim, a história tem uma máxima importante que diz respeito a todos. Os valores que se evidenciam estão a ser esquecidos e, por vezes, só no verdadeiro caos podem ser reencontrados.

Enfim. Concluindo, um livro muito estranho. Bom? Não. Mau? Também não.

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