sábado, 17 de novembro de 2012

O retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde

SINOPSE: Nesta obra, a personalidade dividida de Dorian Gray é representada por uma inversão misteriosa da ordem natural, através da qual a sua verdadeira face conserva a juventude inviolada enquanto o retrato é macerado pelo passar dos anos, até ao dia em que a faca cravada na tela reconduz à arte a sua serenidade impassível e ao ser vivo a sua transição para a morte.

OPINIÃO: Desde o início dos tempos, é fantasia do homem encontrar o verdadeiro segredo da alquimia. A procura pela vida eterna e pelo poder absoluto deixa a humanidade com a boca seca e a respiração acelerada; e, tudo isto, vem do imenso medo daquela que é imparável: a morte.
Oscar Wilde comunga a doce inocência e ingenuidadede de Dorian, cuja idade ainda não o definhou e que ignora o poder do tempo, com a leviandade, fácil de se tentar, e a sua destruição.
A beleza marca a pele do protagonista e este é adorado por Basyl que, enamorado pela sua musa, tenta, em vão, protegê-lo de Henry. Este, por sua vez, com o seu humor sarcástico e carácter controverso, alicia Dorian a levar uma vida sem pudores, sem nunca ter a mínima ideia de onde isto o levará.
Esta situação de Dorian, sempre cercado por Basyl de um lado e Henry do outro, faz lembrar aquela dicotomia do anjo e do diabo. Não que estes o representem em pleno, mas pela inclinação que provocam na conduta do jovem.
É num momento de "susto", ao consciencializar-se de que a juventude não durará para sempre e que o quadro, que Basyl pintou, sempre será mais novo do que ele, que Dorian brada as palavras que o condenarão para sempre. A partir daí, o quadro recolhe todas as maleficências que o seu corpo ganharia com a vida promíscua que leva. Será uma espécie de pacto com o diabo, uma maldição, à qual Dorian vê como uma dádiva
Temos, com Dorian, o anti-herói, um protagonista que é facilmente detestável, e com Henry ganhamos um segundo narrador que eleva os seus devaneios até um ponto que há a total fuga ao enredo.
Foram estes momentos de reflexão que atribuíram a esta leitura maravilhosa, pelo enredo e pela qualidade na construção das personagens, momentos enfadonhos. Sentia-me dentro de um diário, onde tudo se escreve e só um quarto interessa. Notava-se plenamente a voz do autor nestes momentos, proviessem eles da voz de Henry ou de Dorian. Não consegui o afastamento autor-obra, Oscar Wilde está impresso em cada uma das personagens.
O final entra no fatalismo, no merecimento do destino, na condenação de crimes ocultos por um sorriso angelical. Dorian esconde toda a maldade, que vai imprimindo em si, sob o rosto eternamente jovem e belo.
Estamos diante de uma sociedade movida pelas aparências, em que há uma grande dificuldade em distinguir um vilão onde não seja visível a maldade estampada no rosto.
É um livro com imenso para refletir. Não é um livro fácil porque entra constantemente numa narrativa sonolenta, lenta e extensa.
É um clássico com pormenores subentendidos nas ações das personagens, denso, mas essencial para o crescimento literário.

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