Célia
Correia Loureiro – A filha de Portugal
Após
ter explorado o Alzheimer e a violência doméstica em “Demência”, entrado na
pele de quem sente o luto e descobre os segredos de um passado inimaginável em “O
funeral da nossa mãe”, estreia-se no seu primeiro histórico, que promete render
muitos leitores ao género.
Conversei
com a autora e fiquei a saber um pouco mais sobre o seu método de escrita, as
suas ambições e o caminho que percorreu até à elaboração d´”A filha do barão”.
Olá, Célia.
Em primeiro lugar, quero
agradecer a disponibilidade para responderes a estas perguntas para o meu
humilde blogue.
Já te conhecemos pelos teus
primeiros livros: “Demência” e “O Funeral da nossa mãe”. Ambos apelam ao
coração e à emotividade. Porquê o drama? Porque é que optaste por este género?
De que forma é que ele se relaciona contigo?
É através do “drama” que se vivem
emoções. Momentos mais emotivos que racionais são, tantas vezes, aqueles que
decidem o rumo a tomar. Situações difíceis, desafios a superar, é isso que
gosto de incluir nas minhas obras.
Estes livros foram
publicados pela Alfarroba.
Esta editora, e outras, são
chamadas de “pequenas editoras” e são alvo de críticas esporádicas, quanto ao
investimento que dedicam aos autores. Como descreverias a tua experiência com a
Alfarroba?
Foi
uma porta aberta que me trouxe até aqui. Ajudaram-me a crescer e a melhorar e
permitiram-me chegar a muitos leitores. Estou-lhes grata por isso.
Na verdade, diz-se muito que
as grandes editoras ficam reticentes em apostar nos autores portugueses,
sobretudo se forem jovens. Acreditas nesta afirmação? Sentiste isso, quando
terminaste o “Demência”, o teu primeiro livro?
Nem
por isso, porque não cheguei a mostrar o Demência a ninguém que não à
Alfarroba. Felizmente que as editoras estão a começar a apostar em autores
menos conhecidos, mesmo aquelas que podem conceder-lhes grande visibilidade,
como é o caso da Marcador.
Agora, sabemos que estás com
a “Marcador”, chancela da “Editorial Presença”. O que achas que mudou? Achas
que houve algum fator que contribuiu para que, desta vez, decidissem investir
em ti (partindo do princípio que já anteriormente terias remetido os
manuscritos à apreciação deles), ou foi apenas a qualidade do teu novo livro,
que subiu em relação aos outros?
“A Filha do Barão” foi o primeiro
manuscrito que lhes enviei e foi tudo muito instantâneo. Reconheceram o seu valor
de imediato (marcámos a reunião poucas horas depois do envio do manuscrito).
Não sei o que teriam a dizer dos outros, mas está muito esforço depositado
neste e isto nota-se de imediato.
Do drama contemporâneo dos
primeiros livros, passaste ao histórico. Que impasses, dificuldades, te foram
impostas na elaboração deste livro?
A matéria-prima deste novo livro não foi
o meu imaginário, ou não somente. Foi, sobretudo, a pesquisa histórica. Tive de
rever este capítulo da minha formação em Humanidades/Turismo, e passei muitas
horas na biblioteca e a ler A Gazeta de
Lisboa a informar-me sobre a época. Não foi (nem um bocadinho) fácil e
estou muito orgulhosa de ter terminado o livro em tempo tão útil (sete meses)
após reunir praticamente toda a pesquisa que utilizei.
Conhecendo as tuas obras
anteriores e, assim, a tua veia romântica, poderemos contar com ela n’“A Filha
do barão”?
Podem contar com um grande amor, sim. Um
amor construído, balançado pela dificuldade dos tempos e por diversos
obstáculos. Pode considerar-se uma boa história de amor, a meu ver mais
empolgante que a dos meus anteriores romances, porque esses livros eram sobre
outras coisas. Este é sobre ser-se fiel a um compromisso e conseguir ser feliz
num amor outrora indesejado.
Pelas tuas obras, vê-se que
te inclinas muito (e bem!) para Portugal. Consideras importante que se fale do
nosso país na literatura portuguesa da atualidade?
Sem dúvida. Se podemos aprender através
do entretenimento, porque não conhecermos todos um pouco melhor o nosso
passado? Temos uma história única, plena de momentos especiais. Devemos
valorizá-la sempre que podemos.
Escrever é-te prazeroso,
nota-se pela facilidade com que brincas com as palavras nas tuas narrativas.
Qual é a parte que mais prazer te dá, na elaboração de uma estória? Partindo da
pesquisa, da construção da personalidade das tuas personagens, da criação do
ambiente que as rodeia.
Há um momento a partir do qual me fundo com
a personagem. A partir daí deixo de observá-las – passo a ser elas. Quer as
ame, quer as odeie, quer sejam o herói ou o vilão. Já chorei muito a escrever
trechos do livro, porque me identificava a fundo com o sentimento que queria
passar. Já tive dificuldade em perceber onde acabava a minha experiência de
vida e começava a da personagem, por muito diferente que fosse. Gosto de sentir
que vivo várias vidas.
Qual é a tua personagem
preferida? Porquê?
Até hoje? A Luísa d”O Funeral da Nossa
Mãe”. Porque é áspera, ríspida, fria. Ou assim eu pretendia fazê-la, fútil,
cínica e fugidia. E acabou por me conquistar, acabou por me arrebatar quando
mostrou as suas camadas interiores. Surpreendeu-me, transcendeu-me. Foi um
prazer dançar ao seu ritmo.
Diz-se (e eu, pessoalmente,
concordo) que para se escrever bem tem de se ler muito. Lês muito? O que gostas
mais de ler? Algum autor que queiras salientar, que te inspire?
Leio bastante, embora ultimamente não
tenho tanto tempo quanto gostaria para o fazer. Gosto bastante de Anita Shreve
e o Sommerset Maugham, bem como de
Margaret Mitchel, embora apenas tenha publicado
E Tudo o Vento Levou. Gosto de
ler sobre ser-se humano. Sobre cometer-se erros. Sobre amar e enfrentar-se
desafios.
Os clássicos. Os grandes
clássicos! Fazem parte do teu plano de leitura? Algum mestre que te tenha
marcado?
Já referi o E Tudo o Vento Levou, mas neste momento estou a tentar terminar O Conde de Monte Cristo, mas não é fácil,
são muitas páginas e muito pocuo tempo! Adorei o primeiro que mencionei e estou
a adorar o segundo, mas é O Monte dos
Vendavais o livro que mais me abalou (com a Insustentável Leveza do Ser muito próximo do mesmo efeito).
Escreveste dramas, passaste
ao histórico… O que me dirias se te pedisse para escrever um erótico, tendo em
conta o mediatismo em que se encontram?
Cada livro é um desafio e
nunca diria que não. A ver vamos onde as letras me levam.
E a fantasia?
Tenho um projecto a crescer em mim… a ver vamos. A Grécia
Antiga, tem sido um sonho recorrente, quem sabe poderá ser esse o caminho.
Terror?
Também já tentei, mas era
mais suspense do que terror. Mas mais
uma vez digo, o futuro nunca se sabe, uto é possível.
O que podemos esperar de ti
para o futuro? É esse futuro próximo… muito próximo?
Quero escrever mais uns
quantos romances históricos que foquem momentos importantes do país. Alguns
estão quase terminados, outros “pesquisados”, outros a meio gás. Quero melhorar
a qualidade literária d Os Pássaros, que terminei em Dezembro de 2013. Quero
reescrever o Demência e tentar conseguir-lhe a visibilidade que julgo que
merece. Vou continuar a trabalhar nesta área enquanto me for prazerosa.
Obrigada, Célia. É um prazer
ver uma escritora tão jovem a ter o seu devido destaque.
É bom quando o talento é
reconhecido e espero continuar a ver-te ascender até ao bestseller e
publicações internacionais.
Um beijinho,
Andreia Ferreira
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