SINOPSE: " infância é um antigamente que sempre volta. este livro é muito isso: busca e exposição dos momentos, dos cheiros e das pessoas que fazem parte do meu antigamente, numa época em que angola e os luandenses formavam um universo diferente, peculiar. tudo isto contado pela voz da criança que fui; tudo isto embebido na ambiência dos anos 80: o monopartidarismo, os cartões de abastecimento, os professores cubanos, o hino cantado de manhã e a nossa cidade de luanda com a capacidade de transformar mujimbos em factos. todas estas coisas, mais o camarada antónio... esta estória ficcionada, sendo também parte da minha história, devolveu-me memórias carinhosas. permitiu-me fixar, em livro, um mundo que é já passado. um mundo que me aconteceu e que, hoje, é um sonho saboroso de lembrar."
OPINIÃO: Ondjaki mostrou uma elevada mestria na escrita da sua obra “Bom dia camaradas”. O que, à partida, parece ser uma simples história remete-nos a um prol de reflexões.
O livro é narrado na primeira pessoa, pela voz de uma criança. Esta particularidade pode induzir em erro, levando o livro a ser inserido na literatura juvenil, à qual não pertence, apesar de poder ser lido por qualquer faixa etária. Contudo, estou certa de que os mais novos não conseguirão perscrutar a verdadeira essência da obra.
A narrativa abarca variados temas: a cultura angolana; o processo de crescimento pessoal e em sociedade tendo em conta o espaço e experiência; os sentimentos face à opressão e ao medo; o pensamento e visão da criança num mundo que tem tanto de belo como de mortal.
Para concluir, basta referir que Ondjaki possui um talento raro, uma capacidade nata de recuar à infância e transportar para o papel, com a pertinência e magnificência de um adulto, traços verosímeis e encantadores de uma criança. Consegue penetrar, com as suas palavras simples e tão levemente complexas, o pensamento e atirar o leitor para uma reflexão acerca da vida em si, que é comum a todos, e viver, por momentos, a realidade de uma Angola em processo de autodescoberta. Assim, se descobre o país, assim, se descobre o povo, assim, se descobre o mundo.
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